
A ancestralidade é o caminho
A ancestralidade é o caminho
As pinturas criadas por Fernanda Santos celebram a figura negra em um espírito de autenticidade
e alegria, contrariando a narrativa falha dos estereótipos que ainda insistem em recair sobre
corpos negros. Focada em recriar um outro imaginário para a identidade negra, suas pinturas
levam a um reexame da compreensão da identidade negra, explorando noções como intimidade,
comunidade e pertencimento.
Com isso, suas pinturas criam um corpo de imagens figurativas que exploram as texturas
emocionais da vida cotidiana, ilustrando como a artista é capaz de encontrar beleza e mistério em
cenas aparentemente comuns, por meio de imagens suaves, mas emocionalmente carregadas de
simbologias, especialmente quando pensamos que o que pode parecer uma cena corriqueira à
uma maioria de pessoas, não necessariamente é comum à pessoas negras, a exemplo da pintura
que ela retrata sua mãe e sua irmã em um momento de lazer e descanso junto ao mar.
Assim, as pinturas de Fernanda evocam sujeitos contemplativos, que parecem estar mais
preocupados com sua interioridade, priorizando sua própria paz e auto realização para além de
como são percebidos pelos outros e as amarras da história, embora inevitavelmente sejam
afetados por ambos.
Esse desejo de exercitar a liberdade é uma constante nas pinturas da artista, mas que acaba
ficando mais evidente em algumas cenas, como as que ela retrata dois casais de pessoas negras
partilhando afeto. De novo, uma cena que parece extremamente comum, mas aqui precisamos
retomar como o direito ao amor nos foi sistematicamente negado.
E é exatamente nesse ponto que as pinturas de Fernanda vão tomando uma força maior. Quando
a artista inverte a lógica vigente, ao mesmo tempo que há uma espécie de denúncia sobre como
a história desumanizou por séculos pessoas negras, ao negar a elas acesso aos direitos básicos
de existência, por outro lado, a suavidade e a vitalidade que Fernanda apresenta suas figuras e
cenas em cores expressivas, é como se ela devolvesse a esses corpos seus direitos negados.
No entanto, a artista recorre à ancestralidade como ponto de partida para essa exposição.
Retomar o passado como forma de reverência a todos aqueles que abriram caminhos para que
ela pudesse falar não mais sobre violência, mas poder pintar perspectivas de liberdade, existência
e pertencimento, temas que precisam ser cada vez mais exaltados na comunidade negra. A cura
é um ato de comunhão!
Texto crítico: Carollina Lauriano
Obra:



